"Ena meias"

"Ena era mesmo o que eu precisava, muito obrigado pelas meias, vou só guardá-las com as outras 30, mas num lugar especial."
O Natal é uma época curiosa e antítese de tudo o que representa. Ainda hoje, enquanto observava com olhar atento o longo espaço de tempo que leva para uma idosa apanhar a dentadura, um pensamento , qual corrente de ar, atravessou-me o pensamento: "porra a velha é mesmo feia". Bem se calhar foram dois pensamentos mas o que interessa é este: "Se no Natal o importante são as pessoas, ao que é que devemos dar importancia o resto do ano? E se a resposta continua a ser as pessoas associado à felicidade, porque raio é que o importante no Natal não são os presentes? E se o primeiro gajo a celebrar o natal recebe insenso, ouro e mirra porque é que eu tenho de me contentar com meias do Mickey?"
Depois de muito deliberar cheguei a não uma, mas 3 conclusões: o Mickey até é "fófinho" e afinal para que é que eu quero insenso e mirra. Em segundo lugar que o Natal é mais pelo comercialismo e pela vontade morbida que temos para que os outros gostem de nós, a verdade é que só oferecemos meias porque não temos imaginação, ou porque as pessoas não representam nada para nós mas ainda assim não iriamos suportar que elas nos odiassem por não nos termos lembrado delas no Natal por isso oferecemos meias e perfumes, que no fundo é a maneira mais subtil de dizer " podias cheirar melhor, tenta lá fazer um esforço, ok?". Mas vocês perguntam " então e estarmos juntos com a familia não conta?". Balelas, é dizer que o Natal e o funeral de um familiar têm igual importância, a ver bem um até junta mais familiares que o outro. Por estas e outras razões, é que numa época tão honesta e festiva somos obrigados a mentir e pensar que os outros não se interessam assim tanto e de quem é a culpa? Das meias! Porque se elas não existissem teriam de se importar, teriam de fazer um esforço por nós.
Já disse o que tinha a dizer e espero que tenham as minhas palavras em conta, quanto à terceira conclusão: as velhinhas quando se dobram invariavelmente caiem, e agora que olho para o estado em que a senhora ficou penso que gritar "moche" quando ela caiu foi u pouco ruim da minha parte. Um grande bem haja a todos vós e as melhoras à D. Alzira que está internada na secção de Doenças Venéreas do Hospital Amadora Sintra.